16/11/2010

Exorcismo...




olho a estrada a minha frente, e a cada passo ela me pesa mais.
levo comigo tanta coisa que julgo um dia precisar, tanto peso, tanto peso, que não consigo mais andar...

fecho os olhos... respiro... expiro e me esvazio. de tudo.

se é necessário que eu arranque do corpo, da alma, toda a dor e toda a ausência para que eu possa enfim caminhar, arranco todas agora! se é necessário que eu queime junto com elas e desça novamente ao meu inferno, queimo! e desço o quanto precisar. para escalar em seguida, com os dedos em carne viva, as paredes mortalmente ásperas que me levam outra vez a superfície e ao ar que desesperadamente busco. para arremessar as cinzas aos teus pés, mãe, nesta terra que acolhe e transforma, que traz e leva embora, edifíca, destrói e recria com os restos as mais ricas essências. se precisa ser assim, que assim seja. que assim se faça!

atiro aqui, agora, as cinzas do que fui. cravo nelas um punhal para que se misturem com a terra e nela se entranhem cada vez mais fundo, e nunca, nunca mais retornem. exorcizo toda dor, todo vazio, todo o meu passado. violento a minha alma e meu peito em nome de toda a possibilidade. me declaro livre e plenamente capaz de prosseguir, frágeis pés caminhando sobre um solo áspero em busca de vida, em busca do mundo. e que jamais digam que não fui forte. que jamais digam que não fiz escolhas e que não optei por seguir, mesmo miseravelmente partido.

a todo o resto, abro os braços e recebo.

inspiro.

abro devagar os olhos e vejo que a estrada agora é outra; acabo de nascer outra vez.


...


By Lucia Ramos

1 comentários:

As coisas como elas são disse...

Leve e boa inveja de quem consegue assim se livrar de todas as coisas que pesam e não deixam caminhar pelas estradas iluminadas, se livrar dos ventos que empurram e também puxam para as trevas que criamos dentro de nós mesmo, dentro do inferno particular que é pensar demais pra desistir do que ao mesmo tempo que te mantem te mata. A ausencia que me anda me matando é a falta de mim, a alegria que anda me mantendo é a tristeza de estar vivo.

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